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sábado, 21 de maio de 2016

Yaíza



Acordas-me com os teus gritos negros num
incêndio de saudade, Yaíza!.
A memória insiste invadir o teu peito de lava e
o teu coração de catos eretos, na alucinação do sol


A tua brisa alísea permanece tatuada no acordeão
dos meus ouvidos.
Quero pernoitar na prisão das tuas correntes
nos reflexos da meia noite, desmaiando-se
nos novelos de espuma, na quietude branca do luar.

Anoitece, Yaíza, e no cetim da água da noite
és o fantasma que se funde no veludo negro do teu vestido.
Permaneces como impiedosa recordação
que fecunda de aromas doces as pedras virgens
que nascem ainda quentes do teu ventre.

Quero estender-te as mãos na manhã da tua areia
escrevendo o teu nome no meu corpo.
Serás da tua beleza a candeia
e eu, a saudade da tua lua cheia.


Manuela Barroso, in “Talentos Ocultos” – Editora Ediserv

                                                                               

domingo, 8 de maio de 2016

É dia




 Kamil Vojnar


É dia.
O jardim anoiteceu  e com ele as gotas
nas nervuras dos meus olhos.
Ilhas de bancos numa solidão invisível.
Pousam cintilações
nas asas noturnas de merlos amarelos.
Uma seda de ginjeira voa,
tece-se em arabescos e conchas de danças.
No ventre das tábuas solitárias
sentam-se memórias no abandono do silêncio.


Manuela Barroso



domingo, 1 de maio de 2016

MÃE - Rio de Afetos

 Arthur Braginsky


Hoje acordou-me o rio de todos os afetos

Espreguicei-me nos limos suaves,
numa placenta morna protegendo-me  dos ímpetos
do bico dos peixes no voo das águas

Toquei a minha pele, nas entranhas, onde
as sensações se disfarçam nos mistérios
da vida
Memórias do inconsciente nas horas brancas
em que te embalava  no meu seio
Permaneço ainda deslizando sombras maternais
no regaço que nunca arrefece.

Tenta demolir as pedras do abrigo materno!
Jamais apagarás os alicerces da
cidade que mãe construiu em ti.

Tu, mãe,
fonte de todas as sedes, onde morrem todas
as ânsias e todas as saudades, que vozes te
segredam  a ausência de ti?
Que sangue perfuma a transparência da tua alma?
Que pedra constrói o monumento da tua coragem?

Tu, que és mãe,
semeia de branco as constelações  que fazes nascer
no perfume das velas, na constância  permanente                                    
do teu amor incondicional.                                                                     
Tudo  de ti vem, em ti nasce afinal.

És tudo em todos
numa dimensão desigual

Manuela Barroso, in “Laços”-Dueto- Versbrava Editora