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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Ainda permanece ali



Ainda permanece ali aquele corpo desnudado
no abandono do frio
a seiva foi morrer nas entranhas da terra e deixou-te
numa aparente inércia
sem portas
para me acolher quando eu regressar
não choras porque as nuvens choram por ti
nas lágrimas doces da chuva
não danças com o vento
que te despiu
despojando-te dos brincos da tua graça
mas
deixas tecer-te de bordados de musgo e líquenes
que te abraçam
nos anoiteceres solitários
não soluças
porque é desmedida a aceitação do teu destino
pregada ao chão
és a estátua viva
onde nada interrompe o sorriso
que cinzela a tua escultura
e não perdes a memória dos teus anéis
que se escrevem
no teu corpo
mais belo e assombroso
em cada relâmpago de tempo
és o desafio
na demolição da idade
quanto mais te abandonas
e moldas
aos caprichos da Natureza
mais confundes a noção de eternidade

Manuela Barroso
Imagens: Net



 pregada ao chão
 és a estátua viva
 onde nada interrompe o sorriso
 que cinzela a tua escultura
a seiva foi morrer nas entranhas da terra e deixou-te
numa aparente inércia
sem portas
para me acolher quando eu regressar
                                                                  

quanto mais te abandonas
e moldas
aos caprichos da Natureza
mais confundes a noção de eternidade

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O Silêncio...



O silêncio escorre pelos ramos nostálgicos da bruma
Bebo este nevoeiro, perfuro-o com os meus olhos e
não te vejo nas cordas da luz, só no painel do meu
pensamento
Foges do sol das minhas mãos procurando a sombra
dos dedos
Hoje não tenho pressa
Apetece-me a tontura da luz ao bolores húmidos do
rosto das árvores
Deixa que os meus olhos pasmem no repouso cin-
zento da hibernação
Deixa que as palavras sejam voz muda de gestos
que sufocam de resignação
Hoje não quero o lume dos corpos incandescentes
perturbando frutos da memória
Deixa-me abandonar o deserto da saudade e viver
o sonho que ainda lateja neste arco-íris  morno, lento
Hoje não tenho pressa
Apetece-me caminhar na pele húmida das lajes
e pisar o vendaval verde da espuma do musgo
Apetece-me ser longa e longe
Apetece-me viajar na pele do meu eu porque ainda
não sei se me conheço
Não fujo de ti. Espero, porque não tenho pressa.
Ainda quero ver o teu rosto na pele da água e
penetrar no insondável do teu sorriso 
Deixa que eu  mergulhe no poente da tua fonte
Hoje
apetece-me interromper o voo e pousar de novo
nas asas dos teus braços
Apetece-me
Hoje

Manuela Barroso, in " Eu Poético VI"
Imagem: net