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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Cobre-se...


Cobre-se a imaginação de nada.
Embrulho o pensamento com o manto branco da paz.
A mente desdobra-se em argumentos para matar a sua saciedade.
Mas em vão.
A imaginação aliou-se ao pensamento e caminharam em direção ao deserto, onde o vazio preenche o vazio.
A imensidão da areia fina e branca é o prelúdio para o pensamento vago,
voando por este mar branco e árido e cheio de nada.  
Céu longo.
Numa abóbada gigantesca, é a Criação que nos liga ao Infinito.
E, entre o deserto e o céu, só as miragens preenchem o vazio.
São abstratas.
E o pensamento acalma a imaginação.
E o vazio começa a preencher o espaço e o tempo.
E o espaço e o tempo começam a desistir.
Já não existe nem espaço nem tempo.
O pensamento entrou na antecâmara do Universo e foi atraído por ele. “Volatilizou-se” e disse não à resistência.
E encontrou-se no vazio.
E encontrou a calma e a quietude.
Pousou na serenidade.
E este vazio não era o nada, era o tudo, porque era o vazio do silêncio onde o pensamento repousava na tranquilidade adormecida.
E o pensamento, solto das amarras da mente, caminhou nas areias da imaginação.
E adormeceu.
Sentiu-se luz e sombra, tudo e nada.
E nesta libertação meditativa, adormecia nas areias da paz, na lonjura do deserto.
E as teias da vida acordaram-no para a realidade e o vazio foi-se preenchendo com o ruído e confrontos cerebrais. E foi -se deixando morrer...
E o vazio de tudo deu lugar ao vazio de nada.
E acordou o turbilhão da mente.
E o pensamento começou a deixar-se morrer também, como uma flor que a imaginação aprendeu a amar, alimentando-o tantas vezes de utopias...
Mas a mente desprendeu-se como um iceberg, arrastando os flocos da imaginação numa gigantesca bola de neve...
E a quietude do vazio dava agora lugar a avalanches e tempestades brancas, que de paz, só falava a linguagem da sua cor.
E voltou a realidade.
Fria e branca
Branca e fria!

Manuela Barroso

Pintura de Thomas Spence

27 comentários:

Aleatoriamente disse...

Manuela,que profundo, intenso poema.
Amei te ler.

Beijinho

Leninha Brandão disse...

Manu amada, O pensamento tem que estar sustentado pela nossa imaginação e pela vontade...eles se unem e fabricam os nossos sonhos...utópicos?Talvez,mas a vida precisa de nossos utópicos sonhos a nos conduzir.
Bjsssss,
Leninha

Nilson Barcelli disse...

A realidade vai ganhando pela persistência...
O teu poema é excelente. Leva-nos pela mão da tua mente aos confins do teu pensamento poético e traz-nos de volta è crua realidade. Gostei de viajar contigo nas tuas palavras.
Manuela, querida amiga, tem um bom fim de semana.
Abraço.

Celso Mendes disse...

Por mais que a realidade possa ser fria e branca, ou por vezes cinzenta e escura, sempre existirão as cores na memória, na imaginação e nas palavras.

Texto excepcional!

beijo, minha amiga.

Eloah disse...

Linda amiga,a mente voa, tece imagens e qual fetiche energizante, vai vagando, trabalhando, resgatando, retendo e criando detalhes e fantasias.
Em um dos meus textos digo que o pensamente é o barulho dos sentimentos e o eterno ciclo da mente.Despir-se deles
impossível por mais envolvidos pelo silêncio que estivermos.Lindíssimo teu poema.É nestes momentos em que procuramos o silêncio que nos refazemos e nos revigoramos para a caminhada.Grandes voos minha amiga. Bjs no coração Eloah

Ange disse...

Nossa! E aqui cobre-se, veste-se de flores e voa na imaginação ao um paraíso onde só as letras podem descrever...
Parabéns Manoela!

Entendi que você desejou passear pela natureza lá meu cantinho, mas infelizmente não teve acesso. Sim, eu estive hoje modificando algumas coisinhas por lá, por razão disto eu o desativei enquanto mexia por lá!
Mas já o ativei de novo! Tentarei fazer um tempinho este fim de semana para postar novas imagens por lá! Aguarde!
Um lindo e inspirado fim de semana para você!
Meu carinho!
Ange.

Francy´s disse...

Bom dia Manuela, para você adquirir a revista Mostra Plural, basta enviar o seu endereço completo para o meu email: francysoliva@gmail.com assim posso lhe enviar a revista,ok.

PS: bela prosa poética.
bjs

Emília Pinto disse...

Os pensamentos vem sem que muitas vezes os desejemos; aparecem constantemente uns após os outros sem os podemos travar; às vezes queremos isso, mas eles "martelam" a nossa mente e daí a nossa imaginação surge e vai longe muitas vezes para onde desejaríamos que ela fosse; mas quantas vezes pomos um travão e vemos-nos a dizer a nós mesmos..." pára...não sonhes com isso...volta à realidade.Por momentos conseguimos, mas...lá voltam os pensamentos de novo...sempre aqueles que nos afligem e que nem a noite os faz voar; ficam...e teimosamente empurram o sono para bem longe.
Como sempre, dá gosto ler as tuas magníficas palavras, alinhadas de maneira tão bela. Um bom Domingo e uma excelente semana, amiga!
Emília

Anónimo disse...

Manuela querida retornando com força e muita Fé em Deus!
A vida é um presente de Deus,mas saber viver é
um presente de sabedoria!
Obrigada pelo carinho e linda tarde de Domingo!
Amigos dizem eu te amo...risos,
expressão de carinho!!!
Só o amor constrói....
Paz e luz para humanidade

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Sua imaginação repleta de lindas imagens se uniram às palavras e o maravilhoso poder do pensamento, operou o fabuloso milagre da BELEZA de POESIA que aí temos, nos deliciando neste "mundinho" virtual do meu pequeno aparelho real...

Um beijo, Manu,
da Lúcia

Maria Lucas disse...

Gosto tanto da forma que tens de contar poesia, como uma história contada em ondas. Adorei. A imagem é linda

mfc disse...

Intenso e sofrido!
Mas de uma enorme sensibilidade e beleza...
Esse vazio é um frio que nos gela por dentro.
É urgente preenchê-lo!
Beijinhos.

O meu pensamento viaja disse...

Manelinha, o teu belo texto sugere-me a viagem perseguida por quem, através da meditação, pretende quebrar todas as pontes e, em êxtase, regressa depois, limpo e límpido à banal sucessão das horas.
Beijo

Elvira Carvalho disse...

Os seus poemas são na minha modesta opinião muito bons. Intensos e envolventes.
Um abraço e uma boa semana

Jota Effe Esse disse...

Fria e branca
Branca e fria!
Tão diferente de tua imaginação, sempre quente e brilhante para produzir textos assim. Meu beijo.

Rui Pires - Olhar d'Ouro disse...

Bonito e interessante pensamento solto pelas areias da imaginação!

Bonita tb a pintura, gostei imenso!

Bjs e boa semana.

SOL da Esteva disse...

Manuela, Querida

Quase me permiti seguir a tua viagem.
"(...)E o pensamento, solto das amarras da mente, caminhou nas areias da imaginação.(...)".
Mas acordei.
Eu não posso fazer tal, porque esta não é, não foi, a minha viagem, embora o pensamento a siga contigo.
Um texto magnífico e de profunda meditação.
Parabéns, Amiga.

Beijos

SOL
http://acordarsonhando.blogspot.com/

Leninha Brandão disse...

Manu querida,

Novamente aqui a reler teu texto/poema e a me deixar levar pela imaginação...tu me conduzes...a sonhos,a devaneios e a encantamentos.E não quero acordar,quero sentir e viajar contigo...
Bjssssss e uma linda semana,
Leninha

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida Manuela

Ler-te é adentrar no mais profundo da tua alma de poeta...no mais profundo sentimento de Mulher.
E...deixaste-me sem fôlego...EMOCIONANTE...achei-me em cada frase.

Um beijinho com carinho
Sonhadora

Menina no Sotão disse...

Ando perdida nesse vazio, será que encontro esse silêncio porque o meu vazio definitivamente faz muito barulho...

bacio

Elvira Carvalho disse...

Quando der, passe pelo meu cantinho .
http://amulhereapoesia.blogspot.com/
Obrigada
Um abraço

Luma Rosa disse...

É, Manuela!! Às vezes o silêncio faz mais barulho que a coisa mais barulhenta!! ;) O silêncio absoluto faz falta, sem ele a alma não navega!
Boa semana! Beijus,

AFRICA EM POESIA disse...

Excelente texto parabéns




só hoje respondo a visita ao meu cantinho
Só hoje fiquei tranquila para o fazer.
esta lareira não era uma lareira qualquer
era a minha lareira.
e era a minha preocupação..
O meu marido ia ser operado.eu estava muito preocupada e sem animo para muita coisa.
Mas a operação correu muito bem e ele já está em casa.
ontem tbm fiz uma pequena cirurgia à boca para implantes e vim muito debilitada e nem abri o pc.
hoje venho dar-vos um beijo e partilhar convosco a razão da minha ausência..

beijosssssss

LAREIRA

Lareira acesa...
Lareira quente...
Vermelha muito vermelha...
Cheia de cores...
Que aquecem...
E me deixam encostar...
O meu rosto ao teu...
E dizer-te baixinho...
Fica aqui...
E deixa-me ficar...
Sempre assim!...

LILI LARANJO

AFRICA EM POESIA disse...

espero que o meu comentário tenha entrado pois estava dificil..
beijinhos

Anónimo disse...

Manuela
Mais uma "viagem" pelos caminhos do tudo e do nada, na busca do silêncio enquanto plenitude de espaço e tempo! Utopia?! O "tudo" assumindo-se de dentro do "nada" que, por definição, não tem "dentro"?!
Muitos mais desertos terão que confrontar-se com o frio da areia que já esqueceu o sol... e implorar-lhe a cor capaz de a aquecer! Essa luz... Um espanto só, de poema!
Fraterno abraço
Quicas

BlueShell disse...

Acordou para a realidade e o "vazio foi-se"!
Como sempre a excelência de um belíssimo texto. Um prazer ler!
Obrigada
BS

Duarte disse...

Assim, poeticamente, quanto distam essas miragens das que me punha o professor de matemática nos problemas de trigonometria!
Belo, este poema pensamento, rico em matizes nostálgicos e metáforas de ternura, que obrigam à meditação, mais bem a uma reflexão profunda. Gostei!
Um grande abraço