As horas caíam silenciosas no tempo. Tempo? Regredi. Vi uma criança feliz, adolescente pacata, dócil. Um Eu que se foi apagando com as primaveras e o verãos. Sobravam traços com linhas indeléveis, testemunhos de uma presença Aqui, no Agora. E este Eu Físico mergulhou no Agora onde navegam as emoções. Ah, que margens verdes e quietas onde o céu se espraia neste espelho calmo, neste porto seguro!.. É aqui onde me encontro me deito e medito... É aqui onde os meus passos se acercam da minha casa... É aqui onde me refugio das indecisões que me ondulam no mar turbulento de marés altas, das menos verdades que me abalam. E escuto-me... ...assim em silêncio, na solidão do meu lago. ...E as águas não falam porque não correm. As palavras ficam prisioneiras nas margens como diques, sustentando a respiração do pensamento... ...E começam a tremer as águas com as incertezas dos ventos que rasam os salgueirais. E como uma casca de noz, este Eu Emocional balança, inseguro, temendo perder o passeio no remanso da água azul... E os ventos comprimem o campo emocional onde o meu Eu se refugia. A insegurança nasce num olhar. A incerteza aperta no peito. A ansiedade incapacita este fluir manso de ideias e ideais. E deixo-me arrastar na corrente dos ventos numa cascata disforme. Nesta incapacidade de luta e fuga, eis que outro Eu vive em mim e me suporta e me protege e me descansa: A Essência de mim! E aqui me repouso! E adormeço. E me teço... Sou tecido feito de prazer, dor e amor Sou o tecido feito de pele, de alegria e partilha Sou o tecido feito de sede de ser, e de amar sem medida Sou o tecido da fome,feito de dádiva e compaixão E sou o tecido do tempo... ...tecido em mim com cheiro a paz e fome de Infinito!
Rasga-se a terra Nascentes pacatas gorgolejam no silêncio incessante da montanha em gestos frenéticos com ímpetos de alegria. Voam gotas verdes na vegetação diamante em reflexos boreais. As mãos palpam cristais líquidos de pedras transparentes caiadas de verde. Na madrugada do sol deslizam silêncios de orvalho em frisos de diamantes redondos. Submergem dos regatos vozes de ervas sorrindo reflexos azuis, numa corrida cristalina e fluida no assombro do sonho, à procura do destino Uma viagem vagabunda selvagem entre virgens florestas e flores numa corrente agora mansa com labaredas de preguiça irrefletida na vertigem e na embriaguez das cores. O caminho perfuma-se de sol e extasia-se em delírios nas asas misteriosas das borboletas. E atravessa o pórtico do assombro num deslumbramento e fascínio na visualização de sedas que vestem pétalas sensuais e sedutoras E nesta incandescência do dia Nasciam nos olhos da nascente Palavras incompletas de poesia.
Cobre-se a imaginação de nada. Embrulho o pensamento com o manto branco da paz. A mente desdobra-se em argumentos para matar a sua saciedade. Mas em vão. A imaginação aliou-se ao pensamento e caminharam em direção ao deserto, onde o vazio preenche o vazio. A imensidão da areia fina e branca é o prelúdio para o pensamento vago, voando por este mar branco e árido e cheio de nada. Céu longo. Numa abóbada gigantesca, é a Criação que nos liga ao Infinito. E, entre o deserto e o céu, só as miragens preenchem o vazio. São abstratas. E o pensamento acalma a imaginação. E o vazio começa a preencher o espaço e o tempo. E o espaço e o tempo começam a desistir. Já não existe nem espaço nem tempo. O pensamento entrou na antecâmara do Universo e foi atraído por ele. “Volatilizou-se” e disse não à resistência. E encontrou-se no vazio. E encontrou a calma e a quietude. Pousou na serenidade. E este vazio não era o nada, era o tudo, porque era o vazio do silêncio onde o pensamento repousava na tranquilidade adormecida. E o pensamento, solto das amarras da mente, caminhou nas areias da imaginação. E adormeceu. Sentiu-se luz e sombra, tudo e nada. E nesta libertação meditativa, adormecia nas areias da paz, na lonjura do deserto. E as teias da vida acordaram-no para a realidade e o vazio foi-se preenchendo com o ruído e confrontos cerebrais. E foi -se deixando morrer... E o vazio de tudo deu lugar ao vazio de nada. E acordou o turbilhão da mente. E o pensamento começou a deixar-se morrer também, como uma flor que a imaginação aprendeu a amar, alimentando-o tantas vezes de utopias... Mas a mente desprendeu-se como um iceberg, arrastando os flocos da imaginação numa gigantesca bola de neve... E a quietude do vazio dava agora lugar a avalanches e tempestades brancas, que de paz, só falava a linguagem da sua cor. E voltou a realidade. Fria e branca Branca e fria!