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terça-feira, 30 de novembro de 2010

FIM DE TARDE

Percorria a estrada ladeada de abetos e pinheiros, acompanhada dos "Laços"enternecededores dos "Toranja" em cuja poesia o meu pensamento se embalava , quando os meus olhos se perderam mais uma vez no horizonte...
A abóbada celeste cobria-se de um tom pardacento como convém a uma tarde de outono.
O sol desceu, fechando as pálpebras na linha do mar.
A luz tornava-se mais difusa neste fim de tarde já fria. O olhar transgredia a minha atenção, pousando no horizonte onde o sol se aninhava sob uma espécie de dossel.
As núvens desenhadas em escamas e pinceladas longitudinais, eram os lençóis que cobriam o sol.
...E o "aposento"apresentava-se alegre como convém, com a chegada do dono da casa , depois de mais um dia de trabalho.
As cores misturavam-se, numa explosão de euforia, onde o vermelho e o laranja teciam este quadro que se alargava num horizonte longo...longo...
O arvoredo, pousado no solo, formava uma cortina verde que contrastava com a imagem de fundo, numa reverência contínua perante a magnificência do efeito de luz!
Atravessei este manto de folhas perenes e avistei o mar. Anastesiei por segundos a imaginação...e mergulhei o pensamento na aventura do oceano!
As pinceladas de núvens coloridas fundiam-se e penetravam na água brilhante e lisa, formando um espelho onde o céu se mirava...
Arrefecia a tarde mais e mais...
Sentei-me num varandim na companhia de um chá quente.
Enquanto degustava o sabor exótico das Índias, os olhos dormiram por instantes naquele barco lá longe.
...E o mundo parou...
...Perdi-me no tempo, numa espécie de êxtase meditativo...
Acordei com o piar das gaivotas à procura de berço...
A noite caía...
...E o laranja-púrpura deu lugar a um azul escuro seduzido por Vénus.
A luz morria...
Fechavam-se as cortinas...
...E embrulhei nos meus olhos a cor da tarde que agora dormia...
Até amanhã!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A NATUREZA TAMBÉM CHORA

...E as águas revolviam-se no colo do mar...


O céu carregava um fardo imenso de nuvens cinzentas formando castelos de algodão arrastados pelo ar revolto.
O vento uivava num silvo contínuo, chamando pelas forças que alimentam também as marés...
As árvores sacudidas pela ventania ficavam cada vez mais nuas, descarnadas...
As folhas que antes as enfeitavam, deixavam agora a descoberto um corpo uniformemente harmonioso.
A roupagem de outrora, dava agora lugar a vestidos de chuva que escorria, contínua ,nos esqueletos arbóreos.
...E elas , sempre lá, sempre firmes, sem hostilidades: Acatam o tempo e os tempos. Lições de vida...
...E as folhas despedem-se num último adeus ao laço que as prendia...
...E rolam pelo chão e voam pelos ares à mercê da vontade do vento...
O chão já não é tapete de folhas cambiantes. Agora é tapete de lama...
Enquanto na terra tudo se transforma, no oceano tudo se agita numa espécie de revolta contorcendo-se ainda mais com os fios de chuva...
...E o vento vai-se encarregando de trazer nas asas, as nuvens cinzentas, pesadas ,que vão de encontro à terra, precipitando-se em pingas pesadas, cada vez mais grossas e atrevidas...
...E magoam as poucas flores outonais, acostumadas aos beijos brandos do outono calmo!..
...E ficam amuadas por tão pobre delicadeza, tombando sobre si mesmas num humano desconforto!
(continua)


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

CHAMAS...


Chamas o meu nome e vou descendo calmamente
A vazia escada do nosso jardim florido.
O mundo pára, a vida pára e vou ficando
Numa espécie de sonho adormecido.


E viajo neste tempo e neste espaço
Ao encontro da tua suave e meiga voz .
E, apertando-te ternamente nos meus braços
Faz se um silêncio longo que fala por nós!


E assim viajo no tempo e no espaço
Contagiada por esse teu longo olhar,
Sinto a tua mão, entrego-me à ternura,
Numa cegueira imensa, intensa procura
De tão simples gesto, tão bela forma de dar!


M.Barroso


















sexta-feira, 5 de novembro de 2010

EU E O TEMPO..



"Não voltes ao mesmo sítio onde já foste feliz."

Mas voltei.
E o tempo é o venerável mestre! Dá. Tira. Cura!... Tudo num círculo vicioso, que se torna viciante.
Com a dança da Vida,o inconsciente adapta-se espontâneamente aos tempos...e tempo!E é a impermanência do Tempo que nos torna sábios e coerentes com o nosso Eu, porque na enxurrada da vida não podemos sucumbir facilmente aos naufrágios que a violência do tempo nos impõe.
...E, onde ontem vi o sol meigo e amante, onde senti o ar reconfortante, aconchegante a afagar a minha pele, onde confundi as gaivotas com as rochas vestidas de iguais penas...hoje tudo estava em sobressalto com a força da natureza.
Resguardada pela enorme vidraça que me separava do mar, penetrei no horizonte. Tinha um semblante sombrio e triste deixando trespassar o seu mau humor.
As núvens corriam apressadas, escorraçadas pelo vento que se infiltrava nos nichos, deixando um assobio arrepiante...O mar, onde antes mergulhara o meu olhar, lavando os meus pensamentos, batia agora com raiva indignado com a força da maré! E a espuma subia, raivosa,
quase até à vidraça e juntava-se-lhe a chuva que escorria e pingava em lágrimas como num choro convulsivo...
...E olhava...pensava, meditando neste tempo, naquele tempo,nos tempos...
Despertei deste torpor meditativo e voltei ao Agora.
O tempo muda, os tempos mudam...
As coisas mudam, as pessoas mudam...Mas não quero mudar a não ser no que não posso controlar. A minha essência é e será imutável
Porque sou.
Não sou tempo
Sou para além do Tempo!
E
Quero albergar em mim, não o tempo dos vendavais, mas o tempo da paz, da quietude, da mansidão, da bonança.
Queria ser uma luz que não se apagasse com o vento
Uma luz suave presente na escuridão.